Cinco Reinos


Desde a antiguidade, o homem procurou agrupar os seres vivos para melhor compreendê-los. Inicialmente, a classificação baseava-se apenas nos organismos visíveis e suas semelhanças óbvias.

Classificar é o processo de organizar ou agrupar objectos, seres vivos, ou conceitos em categorias ou grupos com base em características ou critérios em comum. No contexto biológico, classificar significa dividir os seres vivos em grupos hierárquicos, como reinos, filos, classes, ordens, famílias, géneros e espécies, com o objetivo de facilitar o estudo, a identificação e a compreensão das relações evolutivas entre eles.

Na biologia a classificação ajuda a: Identificar espécies e organizá-las em grupos relacionados; Compreender a evolução e a biodiversidade; Facilitar a comunicação científica entre investigadores.

A classificação pode ser feita com base em critérios visíveis (como forma e estrutura), funcionais (como métodos de alimentação ou locomoção) ou genéticos (análise molecular).


Os Dois Reinos de Aristóteles

Aristóteles (384-322 a.C.), filósofo grego, foi pioneiro na tentativa de organizar os seres vivos. Ele dividiu os organismos em dois grandes grupos: Animalia e Plantea.


Animalia


1. Reino Animalia: Organismos capazes de se mover. Exemplos: homem, cão, peixe, mosca.

Dividiu os animais em:

  • Animais com sangue (vertebrados): mamíferos, aves, peixes.
  • Animais sem sangue (invertebrados): insectos, moluscos, vermes.

Plantae 

2. Reino Plantae: Organismos sem movimento próprio. Incluía todas as plantas e até mesmo fungos e algas.

Teofrasto, discípulo de Aristóteles, organizou as plantas em quatro grupos com base no seu porte:

1. Árvores: Plantas grandes e lenhosas (mangueira, figueira).

2. Arbustos: Plantas lenhosas de porte menor (café, amendoim).

3. Subarbustos: Entre arbustos e ervas (tomate, cebolinha).

4. Ervas: Plantas com caules não lenhosos (coentro, manjericão).

Com a invenção do microscópio por Anton van Leeuwenhoek (séc. XVII), microrganismos foram descobertos, mas inicialmente classificados no Reino Animalia devido ao seu movimento. Essa visão prevaleceu por séculos, embora fosse limitada.


O Reino Protoctista: Os "Excluídos"




No século XIX, descobriu-se que muitos organismos microscópicos não se encaixavam no Reino Animalia ou Plantae.

Ernst Haeckel (1866) propôs o Reino Protoctista (ou Protista) para abrigar organismos unicelulares que não eram claramente animais ou plantas.

Composição inicial: Protozoários, algas unicelulares, leveduras e bactérias.

Esse avanço ainda não separava adequadamente fungos e bactérias.


Reino Monera: Separação dos Procariontes




No início do século XX, descobriu-se a diferença fundamental entre células procarióticas (sem núcleo) e eucarióticas (com núcleo).

Édouard Chatton (1925) sugeriu a separação das bactérias. Herbert Copeland (1938) formalizou o Reino Monera para organismos procariontes, como bactérias e cianobactérias.


Reino Fungi: Um Grupo Exclusivo




Estudos no século XX mostraram que os fungos eram diferentes de plantas e animais, sendo heterotróficos com digestão extracelular, com parede celular de quitina, e não de celulose como as plantas, e não realizam fotossíntese.

Robert Whittaker (1969) propôs os cinco reinos:

1. Animalia: Eucariontes pluricelulares heterotróficos por ingestão (mamíferos, insetos, etc).

2. Plantae: Eucariontes pluricelulares autotróficos (árvores, algas pluricelulares).

3. Protoctista: Eucariontes unicelulares ou pluricelulares simples (protozoários, algas).

4. Monera: Procariontes (bactérias, cianobactérias).

5. Fungi: Eucariontes heterotróficos com digestão extracelular (cogumelos, leveduras).




Actualmente, as algas pluricelulares pertencem ao Reino Protoctista (ou Protista), e não ao Reino Plantae. Essa reclassificação ocorreu devido aos avanços em estudos morfológicos, bioquímicos e genéticos, que mostraram que as algas, apesar de realizarem fotossíntese como as plantas, possuem características diferentes, como:

  • Estrutura celular variada;
  • Composição das paredes celulares;
  • Ciclos reprodutivos distintos;
  • Diferenças evolutivas.


Propostas Modernas: Novos reinos

Alguns cientistas sugerem sistemas com até 8 Reinos, baseados na complexidade dos organismos vivos e nas diferenças genéticas fundamentais. Essa classificação organiza os seres vivos em três domínios principais: Archaea, Bacteria e Eukarya, reflectindo suas distinções evolutivas. As propostas modernas visam maior precisão científica, considerando avanços na genética e biologia molecular.

Com os avanços da biologia molecular e genética, surgiram classificações mais detalhadas.

Carl Woese (1990) propôs a divisão dos organismos em três domínios:

1. Bacteria: Procariontes comuns.

2. Archaea: Procariontes com características únicas, vivendo em condições extremas.

3. Eukarya: Eucariontes (incluindo os reinos Animalia, Plantae, Fungi e Protista).


Resumo

A classificação dos seres vivos evoluiu de uma simples divisão em dois Reinos na Antiguidade para sistemas mais complexos com base em características celulares, moleculares e genéticas. Atualmente, os cinco Reinos clássicos (Animalia, Plantae, Protoctista, Monera e Fungi) continuam a ser ensinados, mas sistemas mais modernos, como os três domínios de Woese, fornecem uma visão mais precisa da diversidade da vida na Terra.




Nota: A constante revisão do sistema de classificação é um reflexo do avanço da ciência e da nossa compreensão sobre os seres vivos.